Recursos liberados a bancos estão empoçados no sistema financeiro, diz Guedes

Ministro afirma que governo deve aprofundar programas para garantir que o dinheiro chegue 'na ponta'


O ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu neste sábado, 04, que os recursos liberados aos bancos para ampliar o crédito no País em meio à pandemia do novo coronavírus estão "empoçados no sistema financeiro". Ou seja, mesmo com medidas para estímulo ao crédito, como a redução do depósito compulsório - recursos que as instituições financeiras têm de manter no Banco Central -, esse dinheiro não está chegando a quem busca. "Começamos agora a dar dinheiro na veia, direto para as empresas", afirmou, em conversa online com líderes do setor varejista. Guedes defendeu que o dinheiro deve sair de Brasília e "ir onde o povo está".

Para isso, o ministro ressaltou que o governo deve aprofundar os programas propostos para garantir que o dinheiro chegue "na ponta". Ele ressaltou que o governo Bolsonaro está se preocupando primeiro com os mais vulneráveis em meio à crise. "Os R$ 98 bilhões do programa para informais e microempresários são mais do que o (orçamento) discricionário de 2020", afirmou.

Procurada para falar sobre o tema, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) não deu retorno até a publicação da matéria.

Paulo Guedes diz que dinheiro 'deve ir onde o povo está' Foto: Adriana Machado/Reuters

O ministro defendeu ainda que a situação inédita pela qual passa o País está recebendo as devidas respostas por parte da equipe econômica, que também estaria tomando providências inéditas. "Em pouco mais de três semanas, estamos com ajuda de mais de R$ 800 bilhões", declarou.

"Tínhamos programado transferir R$ 450 bilhões para Estados e municípios em oito anos. Transferimos o dobro disso em três semanas", ressaltou. Ele ponderou, também, que o Brasil já tem um déficit de 6% do PIB, "o que nunca havia acontecido”.

Mesmo assim, ele ressaltou que a equipe econômica ainda não fez tudo o que precisa ser feito para conter os impactos do novo coronavírus sobre o País. Segundo Guedes, se for necessário, serão liberados mais recursos, "trilhões". "Vamos liberar mais dinheiro se for o caso". Ele disse que em pouco mais de três semanas, ajuda será de mais de R$ 800 bilhões

Para o ministro, é importante erradicar a cultura da moratória e, quem tiver dificuldade, o governo rolará a dívida. "Ainda não se fez tudo", disse, sem detalhar o que mais poderia ser feito.
Armas de destruição em massa

Segundo Guedes, o governo deseja subir a linha do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para oferecer crédito a empresas que faturam até R$ 300 milhões. Ele defendeu que as medidas de estímulo anunciadas em meio à crise trazida pelo novo coronavírus, como a redução no compulsório, agora terão de ser focadas no emprego e na ampliação do capital de giro das empresas.

Sobre a questão do emprego, o ministro defendeu que a economia deve ser reativada por meio do corte de impostos, especialmente aqueles que chamou de "disfuncionais". "Atacando de frente o mais cruel imposto, o sobre emprego", destacou Guedes. Para ele, o Brasil deve resistir à tentação de fazer apenas um pequeno conserto, o que teria o potencial de destruir o futuro do País, assim como resistir a um "ativismo regulatório", que seria natural, embora desaconselhável, em momentos de crise.

Acenando aos varejistas com quem conversava, Guedes defendeu a redução de encargos trabalhistas - chamados por ele de “armas de destruição em massa de empregos” - como forma de ativar a abertura de postos de trabalho. Ele ainda criticou governos anteriores por concentração de recursos em Brasília e disse que a Lei de Responsabilidade Fiscal ainda “não pegou”. “Temos lei, mas não temos uma cultura ainda de responsabilidade (fiscal)”.
Rede de pagamentos

De acordo com o ministro, o País até pode renegociar salários e outras despesas em meio à crise, mas não é possível desorganizar por completo a rede de pagamentos. "Vamos para o teletrabalho, para o e-commerce, mas de qualquer forma temos de manter respirando e oxigenada a economia brasileira", afirmou. "Não podemos cair na atração do calote, da falta de pagamentos, isso descontinua a rede nacional de pagamentos."

Para Guedes, o País atravessará duas "grandes ondas" durante o combate à covid-19: a primeira delas, para enfrentar as questões de saúde pública; a segunda, os impactos econômicos. O ministro defendeu a atuação do governo federal neste momento de crise e agradeceu o apoio do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).

"O protocolo da crise está sendo seguido, os presidentes de Poderes estão se entendendo", disse. "Trocamos nosso eixo de atuação. Nosso eixo eram as reformas estruturantes, agora são as medidas emergenciais."
Recursos médico-hospitalares

Para a área de saúde, Guedes disse que o governo está seguindo as orientações do ministro Luiz Henrique Mandetta, cuja atuação vem sendo criticada pelo presidente Jair Bolsonaro.

Na esteira das explicações de medidas já anunciadas pelo Executivo, o ministro da Economia falou sobre o bloqueio da saída de recursos médico-hospitalares do País e a redução das alíquotas de importação para os mesmos produtos.

Guedes ainda disse que as vendas no comércio estão caindo e que, dessa forma, a arrecadação também será afetada.

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